segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Guitarra...
Naquela tarde cinzenta, desci a rua fria da baixa da cidade. Acendi um cigarro, entre tantos já fumados, e inspirei profundamente numa vã tentativa de queimar a dor, calar o amor.
Ao fundo da rua, um homem sentado, cabelo desalinhado e rosto cansado, tocou na guitarra a música das nossas vidas.
Desci e gelou-se o sangue... parei e fiquei embalada nessa melodia de (des)encantamento.
Trauteei, por entre as lágrimas, as palavras que outrora foram nossas.
O homem, atento, ainda que cansado, fez-me um sinal com o olhar, dizendo "chega-te, acompanha-me"...
A medo, timidamente, aproximei-me e sentei-me. Da minha pequena voz saíram sons que se mesclaram nos acordes de quem, com mestria, tocava.
Naqueles breves instantes o mundo parou e apenas a poesia da música se fez sentir e ouvir... fui feliz, ainda que triste.
O homem, agarrou-me a mão, levantou-me do chão e, em silêncio, levou-me a contemplar o rio... sobre ele as luzes da cidade pois, entretanto, anoitecera.
Num misto de saudade e alegria renasceu a vontade de gritar ao mundo que estava viva.
Do momento se fez música, da música se fez alimento.
Hoje acordo nos braços dessa guitarra!

Marília Silva

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Imagem: internet

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